DPOC X Sexo
DPOC X Sexo
Domingo, 2 dezembro 2012.
DPOC e o Sexo
O especialista sublinhou a necessidade de intervir precocemente, no sentido de prevenir uma cascata de acontecimentos associados à degradação da função respiratória.
Num simpósio satélite por ocasião do XXVII Congresso Português de Pneumologia, três pneumologistas, um psiquiatra/sexólogo e uma psicóloga falaram, sem tabus, das dificuldades sexuais dos doentes com DPOC.
No evento patrocinado pela Bial foram discutidas algumas alternativas para melhorar a sexualidade dos doentes, bem como o papel do pneumologista na abordagem deste parâmetro que tão drasticamente pode afectar a qualidade de vida de quem sofre desta doença respiratória. Numa breve nota introdutória sobre a DPOC, o Dr. João Cardoso começou por explicar que esta doença respiratória afecta 14% da população e que a incidência é, actualmente, mais elevada nos homens (20%). Tanto no sexo masculino como no sexo feminino, o doente típcico com DPOC tem, em média, cerca de 60 anos de idade. Segundo o director do Serviço de Pneumologia do Hospital de Santa Marta, «a DPOC tem um grande impacto em termos de qualidade de vida e, uma elevada percentagem dos doentes apresenta um quadro depressivo». A dispneia, a perda de capacidade de exercício, a qualidade de vida e as exacerbações são, por norma alvos centrais para a avaliação dos doentes, independentemente do estádio em que se encontram. «A dispneia é transversal a todos os graus de gravidade; a redução da capacidade de exercício começa a sentir-se logo nas fases iniciais da doença; as agudizações acabam por ser difíceis de separar consoante o estádio da DPOC pois estão presentes, com maior ou menor frequência, em todos eles e, por fim, a qualidade de vida, vai sendo cada vez mais reduzida à medida que a doença progride», descreveu o Dr. João Cardoso. Face a estas características da doença, o especialista sublinhou a necessidade de intervir precocemente, no sentido de prevenir uma cascata de acontecimentos associados à degradação da função respiratória. Uma questão frequentemente esquecida nos doentes com DPOC é a sexualidade. «Até Setembro de 2007 havia 13 estudos sobre DPOC e sexualidade, 53 sobre asma e sexualidade, 339 sobre cancro da mama e sexualidade e 211 sobre enfarte do miocárdio e sexualidade », adiantou. Assim, mesmo no contexto da literatura pneumológica, o assunto é raramente falado pois, desde 2007 até Outubro de 2011, dos cerca de 11 000 estudos publicados no âmbito da DPOC, apenas sete se referiam à questão da sexualidade. «Em 1982 foi publicado no Chest um artigo sobre disfunção eréctil em 20 homens com DPOC, muitos deles com redução ou inexistência de actividade sexual», recordou o orador. Mais recentemente, em 2002, a interferência da DPOC na sexualidade voltou a ser tema de estudo num trabalho que incluiu doentes com mais de 65 anos e dos quais 30% revelavam ter perturbações da sua vida sexual relacionadas com a doença. «Curiosamente a percentagem de doentes que revelou uma redução ou perda da actividade sexual é semelhante à percentagem de doentes com dispneia mais acentuada, daí que muitos doentes se tenham queixado de não conseguirem manter uma relação sexual por dificuldade respiratória», constatou o Dr. João Cardoso. A verdade é que a redução da actividade sexual afecta drasticamente a autoestima e qualidade de vida dos doentes e das suas parceiras/os. Segundo o Global Better Sex Survey, que incluiu 12 563 homens e mulheres, dos quais 41% tinham mais de 40 anos, cerca de 48% dos homens revelaram ter disfunção eréctil e 63% das mulheres manifestaram-se preocupadas com esse aspecto no parceiro. «A questão da dureza e da duração da erecção foi referida como um aspecto de grande relevância para ambos os sexos, na medida em que está relacionada com a qualidade do acto sexual, com a vida afectiva e com a qualidade de vida, de uma maneira geral», continuou o pneumologista do Hospital de Santa Marta. Por outro lado, a DPOC afecta indivíduos cuja idade tem alguns efeitos sobre a vida sexual. «Mas poderá a doença crónica, por si só, afectar a vida sexual do doente?», questionou o Dr. João Cardoso, numa altura em que o simpósio assumiu um formato de conversa informal entre especialistas de duas áreas com interesse nesta questão. «De facto, a doença crónica pode afectar a sexualidade dos doentes mais pelo peso psicológico de viver para sempre com determinada patologia, do que pelas limitações físicas a que essa doença está associada», respondeu o Dr. Francisco Allen Gomes. O psiquiatra com interesse na área da Sexologia que, durante muitos anos exerceu funções num hospital central, contou que, nessa altura eram muito frequentes os problemas do foro sexual relacionados com a doença crónica, particularmente em mulheres com cancro da mama, em homens com cancro da próstata, em doentes cardiovasculares, etc. Mas, «em relação à DPOC creio que há um grande vazio porque raramente recebia, na minha consulta, doentes encaminhados da pneumologia queixando-se de dificuldades sexuais», adiantou. Na perspectiva do especialista, esse facto prende-se, provavelmente com a ideia pré-concebida de que a partir de uma certa idade é normal uma redução da actividade sexual, mesmo em doentes saudáveis. Mas, na realidade, «a doença crónica limita a actividade sexual» pois, às vezes, até a falta de conhecimento leva a que os doentes tenham receio de que «o sexo lhes faça mal». Segundo o Dr. Allen Gomes, «essa situação é particularmente evidente em doentes cardíacos». Na DPOC, a insuficiência respiratória que impede a concretização das mais básicas tarefas do dia-a-dia, acaba por ditar uma redução da actividade sexual como de qualquer outra actividade que implique esforço físico. «Por sua vez, a redução da sexualidade vai abrir as portas à perda da autoestima e à depressão que, também por sua vez, vai implicar tratamento farmacológico que tem impacto na função eréctil», alertou o Dr. Francisco Allen Gomes.